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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Mãe, quantos anos tem?

Velha

Envelhecer não é bom. A gente não pode subir, não pode descer, não pode vestir, não pode comer, é tanta proibição, minha filha, mas fazer o quê?

 

No texto abaixo, intitulado originalmente “Pelo direito de exibir o corpo e a idade que se tem” -da autoria de Maria da Luz Miranda- a autora fala dessa mania de certas mulheres de esconderem a idade e de fazerem o impossível para se manterem jovens. Mesmo sendo a velhice inevitável, há um verdadeiro pavor do avanço do tempo. Isto porque ainda vivemos numa sociedade que preza a juventude mais do que tudo e rejeita com toda força o envelhecimento.

 

Mãe, quantos anos  tem? 39. Mãe, quantos anos  tem? 39. De novo? Maria Emília inventa histórias e luta e resiste em dizer à menina que já tem 40 anos há cinco. Mas a filha, esse espelho, está crescendo. E teima em perguntar: Mãe, não fica velha? Eu não vou ficar velha? A vovó não é velha?

 

A pequena Júlia, de cinco anos de idade, exige resposta. Da mãe, que vai ao ginásio todos os dias e compra montes de produtos que prometem eliminar quaisquer traços de envelhecimento, instantaneamente. Não é só vaidade, ela diz. É a cobrança que sente nos olhos dos outros.

 

Envelhecer não é bom. A gente não pode subir, não pode descer, não pode vestir, não pode comer, é tanta proibição, minha filha, mas, fazer o quê?, constata dona Laura, de 75 anos recém-completados. Ficar velho não tem de ser tão mau,  completa ela . Afinal, o contrário disso a gente sabe qual é e esse final a gente quer mais é deixar para depois, diz ela, que é mãe da Maria Emília e avó da Júlia.

 

Envelhecer não é bom. Aos olhos da Maria Emília, que não dá atenção ao consolo da mãe e diz viver apavorada como tantas outras mulheres com os discursos que circulam por aí e só corroboram a estratégia das marcas que fazem questão de associar os seus nomes e produtos a juventude e beleza, que têm de andar juntas, como se nada tivessem de subjectividade.

 

Viver, nestas condições, é perder o direito a usufruir do tempo e dos efeitos dele como bem se escolher, queixa-se Maria Emília, que é advogada e parece não estar mesmo sozinha. Tanto que circula um abaixo-assinado que pede que marcas de beleza deixem de usar o termo ‘anti-idade’, nas suas campanhas e rótulos. É direccionado a duas marcas específicas e está disponível para quem quiser assinar e amplificar a petição.

 

Anti-idade é um termo vil pelo seu uso. A pequena Júlia merece resposta. E não temer a idade. Maria Emília, a mãe que resiste a declarar a idade, também carece de uma rotina menos aflita. Em tempos de discursos pró-sororidade (*) e menos opressão, vale bradar por respeito ao direito que temos a rugas e pouca elasticidade. Velhas seremos todas, na melhor das hipóteses. Sãs, de preferência.

 

(*) Sororidade - Pacto entre as mulheres que são reconhecidas irmãs, sendo uma dimensão ética, política e prática do feminismo contemporâneo.

 

Texto adaptado do original de Maria da Luz Miranda, publicado no seu blog,  pelo jornal “O Globo”.

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a ortografia antiga.