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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

50 anos. Cheguei à meia idade. E agora ? Estarei em crise ?

Estava, animadamente, a ler um artigo numa revista, quando viro a página e, em letras garrafais, lá estava escarrapachado:

Os 50 anos e a “crise da meia idade”

Hiperventilei. Parecia o Titanic a bater no iceberg. A minha rica cabeça deu um nó.

By Zé Batista 2

Se me dissessem que aquele termo, “meia idade”, me iria incomodar tanto, jamais acreditaria. Mas, incomodou. Estava ali, preto no branco: 50 anos. Meia idade Mas o que foi que aconteceu ? Como é que cheguei aqui, à meia idade. E, a partir daquele momento, volta e meia lá estava eu a pensar: Cheguei à meia idade, mas quem sou eu? Onde estou ? Para onde vou ? Será que estas dúvidas são fruto do raio da crise da meia idade ?

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Bom, mas rapidamente pensei : Estás na meia idade e então. É sinal que estás viva, já pensaste nisso ? Não, realmente, ainda não tinha pensado, E, lá voltei a magicar no termo: A crise da meia idade. Mas, porque carga-d’água, é que a meia idade há-de ter crise, e donde vem o desconchavo do termo.

Algures, nos idos de 65 do século passado, o psicoanalista, Elliot Jacques, referia-se num seu artigo, “a uma fase crítica do desenvolvimento humano entre os 40 e os 60 anos, motivada por períodos de transição na vida.” Explicava ainda, que este período tende a variar muito de indivíduo para indivíduo e entre géneros. Em bom rigor, foi pouco comprovado cientificamente ao longo dos tempos,, mas generalizou-se e virou um ícone pop nas sociedade desenvolvidas contemporâneas, tema de enredo de filmes (Beleza Americana, por exemplo) e de livros (Liberdade, de Jonathan Franzen, só para citar um).

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Um outro estudo que analisou 1000 britânicos concluiu que a dita crise atinge os homens aos 43 e as mulheres aos 44 anos, e que estas tendem a desenvencilhar-se destes pensamentos mais rápido (não é de estranhar, têm mais coisas para fazer). Enumerou 40 sinais de que a crise anda por aí nomeadamente procurar ex-parceiros no Facebook, tomar vitaminas e anti-oxidantes anti-idade, começar um novo hobby com entusiasmo pueril ou comparar a aparência com outras pessoas da mesma idade. Se nestes casos, felizmente, não me revejo, fiquei mais preocupada com outros indícios: ler os obituários com muito mais interesse (e verificar sempre qual foi a causa da morte), registar mentalmente quando os políticos ou outros líderes são mais novos do que nós próprios ou revisitar os locais onde se passava férias em criança. Confere.

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O “livro Dataclysm: Who We Are (When We Think No One’s Looking)”, de Christian Rudder, traz alguma luz sobre este assunto, nomeadamente, sobre a forma como os homens vêem as mulheres mais velhas. Rudder, co-fundador do OkCupid (um site de dating oline) mas também cientista de dados formado em Harvard, analisou milhões de registos dos utilizadores para perceber o que querem afinal os homens e mulheres. Conclusão: os homens de todas as idades preferem mulheres, ou melhor, meninas, com vinte e poucos anos. Os homens definem os filtros até 39 e mais além, mas raramente contactam mulheres acima dos 29 anos. Como se estas tivessem, portanto, um prazo de validade (tipo iogurte, ou embalagem de entrecosto de carne de porco, por exemplo).

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É evidente que o mundo está cheio de mulheres com mais de 40 e figuras invejáveis - Sandra Bullock, Julia Roberts, Selma Hayek, Gwyneth Paltrow, Elle MacPherson -, ainda que todas estas sejam especialmente bafejadas pela genética ou pelas mãos habilidosas de cirurgiões plásticos.  Mas, como dizia a outra: Isto agora não interessa nada. Adiante.

Selma Hayek  2 -

 

Há toda uma vasta gama de qualificativos que entraram no léxico comum para as senhoras acima dos 40/50, vulgo “entonas”. “Cougar” é o mais propagado, e refere-se às mulheres maduras que gostam de homens mais novos. Não não me parece nada de novo. Desde a Grécia Antiga que a figura existe na literatura. Em Hippolytus, de Euripides, a protagonista era Phaedra, uma mulher mais velha, casada, que se apaixona por um homem mais novo. Como em todas as tragédias gregas, o final não é propriamente feliz… Prefiro focar-me na Catarina, a Grande. A monarca russa, que reinou 34 anos, somou inúmeras conquistas políticas e outras tantas amorosas, que culminaram na paixão por Alexandrovich Zubov, 40 anos mais novo. No século passado, a muito sedutora Anaïs Nin, já depois do casamento com Henry Miller, também se apaixonou aos 44 anos por Rupert Pole, 16 anos mais novo, e acabaram por casar.

Anais Nin

Nos dias de hoje, o tema é tão comum que deixou de impressionar. O Sexo e a Cidade trouxe as cougars para o novo milénio, com Samantha Jones a personificar a madura sexy e louca. Demi Moore, Madonna e Mariah Carey também fazem a sua parte na vida real.

Mas nem todos os sinais que nos chegam são maus. Um estudo da Universidade do Texas assinado pelo psicólogo David Buss esclarece que as mulheres nos seus 30as e início de 40as são significativamente mais sexuais do que as mais novas. Mulheres entre os 28 e os 40’s afirmam ter mais fantasias sexuais, e mais intensas, do que mulheres entre os 18 e os 26, mas também mais sexo. Ponto final. O racional está no facto de as mulheres ficarem mais sexuais à medida que a sua fertilidade diminui. A feliz “culpa” está nos nossos ancestrais, explicam os especialistas. A mortalidade infantil era grande e as mulheres tendiam a ter muito mais filhos para que alguns sobrevivessem. Para garantir que a natalidade não caísse com a dificuldade acrescida em fecundar e levar uma gravidez até ao fim, a natureza deu às mulheres especial apetite a partir dos 40…

A fertilidade essa, recebeu, entretanto, a preciosa ajuda da ciência. Apesar de serem gravidezes de risco, há mais mulheres hoje a terem filhos saudáveis depois dos 45 e até dos 50. E depois, há os casos extremos: não há muito tempo uma avó alemã de 65 anos teve quadrigémeos.

Tudo isto faz sentido porque a esperança média de vida hoje é também muito superior: mais de 80 anos, em 1975 era de 71,4 e nos anos 60’s era cerca de 65. Aqui reside o busílis da questão: os “50 são os novos 30”. É um facto: vivemos mais e vivemos melhor, e por isso aos 40/50 ainda temos uma vida pela frente. Olho para as fotos da minha mãe com a minha idade e verifico: o ar de senhora de cabelo apanhado em banana e muita laca e o tailleur composto está nos antípodas do meu, que estou a escrever no meu portátil de calções, t-shirt e havaianas  (é, talvez, demasiado “teen”, é um facto).

Confúcio um dia perguntou: “Qual seria a sua idade se não soubesse quantos anos tem?”.

Diria 30, bate certo com o cliché.

Uma coisa tenho como certa: a idade traz cada vez menos certezas. E nas mais variadas áreas. Dou por mim a navegar entre campos políticos diferentes, por exemplo, simpatizando com ideias de uns e posições do outros de quadrantes opostos. A gostar de comidas que detestava. A ser muito mais tolerante com os outros, mesmo os que achava antes extremamente estúpidos e preguiçosos. Descobri que o preto pode ser pouco escuro e que o branco pode ter muitas tonalidades fantásticas. E que ser é um verbo muito mais importante do que ter ou parecer.

Talvez seja por isso que Shopenhauer disse que os primeiros 40 anos de vida nos dão o texto, e os 30 seguintes o comentário.  "É com a idade que nos tornamos naquilo que somos”. E isso é  mesmo muito bom.

 

Fonte : Visão (Texto adaptado)

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a ortografia antiga.