“Tenho de agradecer sempre por estar viva. Tenho demasiados amigos que estão doentes ou morreram, e eu estou aqui. Não posso queixar-me” Meryl Streep
Ultimamente tenho reflectido muito sobre a maturidade, esta que é a derradeira fase da nossa existência. Sempre fui contra a expressão “melhor idade”. Na verdade, achava ridículo chamar a esta etapa da vida a melhor de todas. Mas o que tenho descoberto é que, em vários aspectos, ela é realmente melhor. Por exemplo, nunca me senti tão livre. Nunca a opinião alheia sobre mim foi tão “desimportante” como agora. Nesta altura, praticamente só faço o que quero. E ficar sozinha comigo mesma nunca foi tão bom. Melhor idade? Não, não é. Também não é a pior, embora nesta faixa etária as doenças comecem a aparecer, a decadência física seja inevitável e, o pior, as perdas se sucedam. Mas, como diz a actriz Meryl Streep, temos de “abraçar” o nosso envelhecimento.
Juventude é tudo, dizem os comerciais. na televisão, que insistem na ideia de que só é feliz quem consegue prolongar, eternamente, o corpo, o rosto e os desejos que tinha aos 20 anos de idade. Pois eu discordo veementemente. Acredito que a maturidade tenha muitas vantagens. Perde-se em beleza e viço, mas se ganha em sapiência e em paz interior. Eu prefiro a segunda opção. O que mais se ganha ou se perde com o passar dos anos? Para “colocar na balança” escrevi a minha listinha. Faça a sua também.
O que se ganha com a maturidade
– Ficar em casa nas noites de sábado deixa de ser um sofrimento. Ver um filme no DVD ou ler um livro passa a ser um bom programa;
– Não sofremos mais porque não temos uma "trapinho" novo para cada festa. Pelo contrário, passamos a entender que menos é mais;
– Deixamos de nos preocupar com o que os nossos namorados (quem os tenha, evidentemente) estão a fazer, quando não estão connosco. Passamos a acreditar que as pessoas só ficam juntas se quiserem. Caso contrário, vai cada um para o seu lado;
– Entendemos que tudo passa, e que o sofrimento e a angústia fazem parte da vida de todos, assim como os momentos felizes, e que precisamos encará-los com serenidade;
– Os sonhos de consumo são outros. No meu caso, escrever, fotografar, viajar, estar com amigos do coração, bebericar algo à lareira, … Bens materiais não são mais a meta. Em vez disso é bem melhor acumular experiências;
– Aprendemos que ninguém precisa de ter uma multidão de amigos para ser feliz. Bastam poucos e bons;
– Aceitamos que os quilos a mais não são o fim do mundo. Um bom prato, ainda que muito calórico, um chocolate meio amargo ou uma taça de espumante confortam a alma;
– Adquirimos sabedoria para entender qual a hora de falar e a de ficar calado. Saber ouvir e saber calar passam a ser grandes qualidades:
– Temos paciência para esperar que as coisas aconteçam;
– Deixamos de fazer planos a longo prazo para viver o hoje, porque nos damos conta da finitude da vida;
– Valorizamos mais a companhia da família, até porque sabemos que ninguém é eterno;
O que se perde com a maturidade
– A beleza e o viço próprios da juventude;
– A saúde quase sempre perfeita;
– A coragem para arriscar-se em aventuras.
– Os sonhos, que são muitos e loucos;
– A esperança de mudar o mundo e, isto, é o que mais me dói.
Acreditava que a minha geração mudaria isto que está aí – fomes, guerras, revoluções, corrupções, descasos, abandonos, terror.
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia.
Texto adaptado de um artigo de Viviane Bevilacqua.
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