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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Fechemos este ciclo e preparemo-nos para as novidades do próximo.

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Sabemos todos que a nossa vontade é dizer que este ano não foi um mar de rosas.

Tivemos decepções, preocupações e algumas lágrimas. Nem tudo deu certo. Aliás, alguns planos saíram completamente ao contrário daquilo que esperávamos, e algumas metas também não foram cortadas.

 

Pessoas houve que partiram com um até breve, deixando no ar um “a gente se encontra por aí”, mas algumas se foram para sempre, deixando para trás a dor de um coração que jamais voltará a ser o mesmo. Mas, mesmo assim, devemos pensar que este ano não foi, de todo, mau. Tudo o que aconteceu contribuiu para o nosso crescimento pessoal, apesar de algumas coisas não terem sido planeadas, tão-pouco desejadas.

 

O facto é que, realmente, não podemos sair ilesos de 365 dias de vida, sobre os quais pouco (ou nenhum) controlo podemos exercer. Quando menos esperamos, eles parecem ganhar vida própria e surpreendem os planos que fizemos no dia anterior, virando tudo da cabeça para baixo. E,é porque não enfrentamos trezentos e tantos dias sem nos tornarmos  em pessoas diferentes, que este é o momento certo para agradecermos.

Este é o momento perfeito para reconhecermos que os revezes da vida não chegam de mãos a abanar e trazem aquela maturidade indispensável para se ver a vida como ela realmente é. E por termos vivido, ensinado e aprendido, é que precisamos  reconhecer que nem tudo eram rosas, mas que os espinhos não trouxeram apenas sofrimento.

 

Vamos abrir-nos a este momento de despedida do ano velho e ergamos a cabeça para dizer: “nem tudo foi como eu gostaria, mas ainda assim valeu à pena!”.

Porque valeu mesmo. Não somos mais as mesmas pessoas do começo deste ano. Aprendemos a sermos mais fortes, a resistir e até a perdermos alguns medos que nos limitavam. Pode ser que agora  estejamos a questionar-nos de onde veio tamanha coragem. Mas o que importa é que ela veio, e que saiu de dentro de nós.

E, graças a isso,  queremos tentar coisas novas neste novo ano. Queremos viver experiências inéditas porque descobrimos o maravilhoso gosto de nos aventurarmos . Percebemos o quanto é proveitoso provarmos as surpresas da vida, porque ela não tem limites em surpreender-nos.

 

Então, antes de partirmos para este admirável ciclo novo, que está prestes a abrir-se, agradeçamos! Agradeçamos só. Pelo que veio, pelo que passou e pelo que ficou. Agradeçamos a este ano, que ora termina, as mudanças profundas que ele provocou em nós. E fechemos esta etapa. O que aconteceu não será esquecido, porque se tornou parte do que somos agora. Mas preparemo-nos para receber o que virá.

Sejamos inteligentes ao estabelecermos as  nossas próximas metas. Sejamos gentis connosco e tracemos planos que contemplem, sobretudo, as nossas vontades. Pensemos onde queremos chegar e usemos bem estes 365 dias novinhos em folha.

E quando eles findarem novamente, que possamos comemorar com a tranquilidade de quem fez o melhor que sabia e podia.

 

Feliz ciclo novo para si!

 

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Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia

 

Imagem : Web

 

O COMBOIO / THE TRAIN

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O COMBÓIO
Quando nascemos, iniciamos uma viagem, no combóio, que vai ser a nossa vida. O nosso primeiro encontro é com os nossos pais. Acreditamos, então, que eles viajarão connosco, para sempre. Com o passar do tempo, outras pessoas embarcarão neste combóio e, também eles, marcarão a nossa vida. São os nossos irmãos, os nossos amigos e, até mesmo, o amor de sua vida. No entanto, haverá uma estação em que os nossos pais vão deixar a carruagem, deixando-nos sozinhos, nesta viagem. Ao longo da jornada outros descerão e deixando um vazio permanente. Alguns, todavia, vão sair tão despercebidos, que nem chegaremos a saber em que estação e saíram. Esta caminhada será cheia de alegrias, tristezas, fantasias, expectativas, chegadas e despedidas. Então, o sucesso da nossa viagem consiste em sabermos ter um bom relacionamento com todos os passageiros, o que exigirá que saibamos dar o melhor de nós mesmos.

O grande mistério para todos nós, passageiros, é, nós próprios, não sabemos em qual estação vamos descer. Ao viajarmos com esta dúvida, devemos tentar viver da melhor maneira, amando, perdoando e oferecendo o melhor de quem somos. É importante fazermos isto porque, quando chegar a hora de descermos, deixando vazio o nosso lugar, devemos querer que os outros passageiros, que vão continuar a sua viagem, fiquem com boas recordações e lembranças agradáveis nossas.
Tenham, então, uma alegre e harmoniosa viagem.

THE TRAIN
At birth we boarded the train and met our parents, and we believe they will always travel by our side. As time goes by, other people will board the train; and they will be significant i.e. our siblings, friends, children, and even the love of your life. However, at some station our parents will step down from the train, leaving us on this journey alone. Others will step down over time and leave a permanent vacuum. Some, however, will go so unnoticed that we don't realize they vacated their seats. This train ride will be full of joy, sorrow, fantasy, expectations, hellos, goodbyes, and farewells. Success consists of having a good relationship with all passengers requiring that we give the best of ourselves.
The mystery to everyone is: We do not know at which station we ourselves will step down. So, we must live in the best way, love, forgive, and offer the best of who we are. It is important to do this because when the time comes for us to step down and leave our seat empty we should leave behind beautiful memories for those who will continue to travel on the train of life.
I wish you all a joyful journey

 

Adaptação e tradução livre de Mandy Martins-Pereira

 

Imagem : Web

O Quarto Rei Mago

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Deserto adentro viajam os magos… montados nos seus camelos através da escuridão da noite.

— Vejam, estamos a ser guiados por aquela estrela! — exclamou o primeiro.

— Guiados ao encontro de um rei — concordou o segundo.

— O Rei do Céu e da Terra — acrescentou o terceiro.

Havia um outro homem que viajava com eles.

— Quem me dera ser tão sábio como os meus companheiros — disse para si próprio. — Ter-me-ia inteirado melhor sobre a razão da nossa viagem antes de termos partido.

— A minha prenda está escondida no alforge — murmurou o primeiro.

— A minha vem atada ao cinto — respondeu o segundo.

— E eu trago a minha cosida entre as pregas da túnica — acrescentou o terceiro.

O quarto homem olhou para eles com tristeza.

— Ainda não encontrei uma prenda digna daquele rei — lamentou-se. — Continuo à procura.

— A minha prenda é ouro, porque o rei é poderoso — declarou o primeiro.

— A minha é incenso, porque as orações do rei chegarão a Deus que está no Céu — anunciou o segundo.

— E a minha é mirra, porque o rei será muito famoso em vida mas sê-lo-á ainda mais após a morte — declarou o terceiro.

O quarto homem baixou os olhos.

— Eu nem sequer sei que prenda lhe hei-de dar — suspirou.

Os quatro homens continuaram o caminho pela noite fora, prosseguindo uma viagem que iria prolongar-se por muitos dias e muitas noites.

Por fim, a estrela que os conduzia ficou imóvel no céu nocturno, pairando sobre uma humilde habitação.

— Que lugar tão estranho para um rei — admirou-se o primeiro homem.

— A estrela mostra claramente que estamos no sítio certo — respondeu o segundo.

— Vamos então entrar e oferecer as nossas prendas — disse o terceiro.

O quarto homem ficou à espera do lado de fora.

— Posso ir buscar água para os camelos — disse para si próprio — já que não encontrei uma prenda digna do rei que está lá dentro.

Deslocou-se até ao poço e encheu um cântaro com água. Como era muito pesado, pousou-o no chão por um instante.

Foi então que descobriu uma coisa maravilhosa, e inclinou-se sobre o cântaro para a ver melhor.

— A estrela — disse ele. — A estrela que está no céu, está também no meu cântaro velho e gasto.

Ficou a olhar para ela maravilhado, durante um momento, e a seguir soltou uma sonora gargalhada.

— É isto que vou levar ao rei — disse — a luz do Céu reflectida na água do meu cântaro.

Milagrosamente, a estrela continuou a brilhar no cântaro, fazendo sorrir o Rei-Menino.

 

Lois Rock (org.)
Contos e Lendas da tradição cristã
Lisboa, Editorial Verbo, 2006

Natal - 1912

As Broas - Natla

 

"É dia de Natal. A cidade amanheceu alegre no céu fresco e azul. Os carrilhões das igrejas repicam festivamente. As salsicharias, os restaurantes, as pastelarias, ostentam em exposição os seus produtos mais apetitosos: (...) os bolos do Natal: os fartes, os sonhos, os morgados, as filhós, as queijadas, os christmas-kacks, os puddings, os bombons glacés. E a profusão destas exposições dá às ruas o aspecto culinário da abundância, da plenitude."

Ramalho Ortigão, As Farpas (*)

Ilustração Portuguesa
N.º 357, 23 Dez. 1912

(*) Tomo I, Lisboa, Livraria Clássica Editora, 1942, p. 69.

 

Fonte: Ass. Prof. de História

 

ACREDITE NA MAGIA DO NATAL

Believe in the magic of Christmas

 

 

"Que belo é ter um amigo! Ontem eram ideias contra ideias. Hoje é este fraterno abraço a afirmar que acima das ideias estão os homens. Um sol tépido a iluminar a paisagem de paz onde esse abraço se deu, forte e repousante. Que belo e que natural é ter um amigo!”
__Miguel Torga

VIVER DE APARÊNCIAS

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Como as nossas vidas seriam mais simples e alegres se não vivêssemos de aparências.

 

Quantos de nós, quando poisamos, à noite, a cabeça na nossa almofada, tiramos a máscara que usámos durante o dia podendo, finalmente, enfrentar a nossa realidade, choramos.

 

Tirar as máscaras não é fácil para aqueles que se habituaram a usá-las e, hoje em dia, quase todos nós, usamos uma máscara de aparência, entre pais e filhos, entre irmãos, na família, no trabalho, entre namorados, entre amigos e, por vezes até, entre mulher e marido. Penso tantas vezes: - como é que ainda nos reconhecemos ?

 

Tudo é vacuidade ! Os casais fingem amor e ternura, frente aos outros; amigos fingem intimidade e cumplicidade entre eles; os empregados fingem entender os chefes ou os patrões e estes fingem reconhecer mérito no trabalho daqueles, quando, muitas vezes, os invejam pela competência; filhos fingem concordar com as regras dos pais, e estes fingem acreditar neles.

 

Colocamos máscaras para sermos bem vistos pelos outros, para nos destacarmos, para conseguir algum benefício, por medo de não agradarmos, de ficarmos sozinhos ou sermos magoados, para controlar ou dominar uma situação e até mesmo para nos escondermos de problemas internos que não queremos enfrentar, mas que precisam ser enfrentados para serem resolvidos.

 

Depois, quando ficamos a sós com o nosso “grilo” lamentamos a falta de atenção dos nossos maridos ou mulheres, dos filhos, a falta de solidariedade dos amigos e colegas de trabalho, dos familiares ? Quantos de nós choramos e lamentamos ter de fingir uma alegria e felicidade não sentidas ? Por que preferimos viver de aparências, do que, tão-somente, assumirmos as nossas frustrações,  tristezas, desilusões, e aprendemos a viver com elas ?

 

O grande problema com as máscaras é que elas acabam por se tornarem uma prisão. Quem se habitua a fingir a ser o que não é, pensa ter que fingir sempre para não perder a aprovação dos outros e isso acaba por tornar-se um fardo muito pesado na nossa vida, pois “é impossível fingir para todos todo o tempo”. Ninguém pode ser completamente feliz tentando ser o que não é.

 

E vamos somando dias à nossa vida, sem “vivermos” os dias que passam.

 

Se nos dermos ao trabalho de reparamos nalgumas pessoas à nossa volta, quantos vezes julgamos algumas delas, desinteressantes, sem graça, porque não vivem em euforia, não frequentam os últimos sítios da moda, não publicam a sua intimidade nas redes sociais, nem vivem a 400 kms. à hora ? Quantas vezes estas pessoas, no silêncio da sua sala, no sossego de um jantar a dois, num passeio com a família ou com os amigos, sem grandes exibições, são bem mais felizes e autênticos ?

 

Todos nós sabemos que a felicidade não é um dado adquirido, não é um estado permanente. Todos vamos ter dias em que vamos chorar, que serão negros, que vamos sentir tristeza. Mas haverá alguma coisa , que nos faça sentir melhor que aquela conversa sincera e honesta, ou aquele abraço apertado entre pais e filhos, ou entre amigos, aquele ternura que sentimos por aquela criança que não conhecemos, mas encontramos na rua, aquele beijo sentido dado e recebido de quem amamos? E mesmo quando estamos sós,  tristes, frustrados, ao olharmos a beleza de uma noite de Lua Cheia, ou de um pôr-do-Sol sabermos que ele nascerá de novo, pela manhã, para trazer-nos o renascer da esperança ?

 

Na vida nem tudo é um permanente arco-íris, mas se aprendermos a viver e a experienciar a nossa verdadeira realidade, sem máscaras, sem fingimentos encarando a verdade das nossas vidas, saberemos que sempre vale a pena continuarmos a viver, a sorrir e a amar.

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

Imagem : Web

Não mudei, apenas amadureci

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Já tentei substituir pessoas insubstituíveis e esquecer pessoas inesquecíveis. Já fiz coisas por impulso. Já me decepcionei com algumas pessoas, mas também já decepcionei alguém.

Já abracei para proteger e ri quando não podia. Já fiz amigos eternos. Já amei e fui amada; mas também já fui rejeitada. Já fui amada e não soube amar.

Já gritei e pulei de alegria. Já vivi de amor e juras eternas, mas também já quebrei muitos juramentos.

Já chorei a ouvir música e a ver fotografias. Já telefonei só para ouvir aquela voz. Já me apaixonei por um sorriso e  já pensei que fosse morrer de saudade…

Já tive muito medo de perder alguém especial (e acabei por perder), mas sobrevivi!

Não deixe a vida passar…

Viva!

“Lute com determinação, abrace a vida e viva com paixão. Perca com classe e vença com ousadia, porque o mundo pertence a quem se atreve e a vida é muito importante para ser insignificante”.

Charles Chaplin

 

Porque, afinal eu não mudei, afinal eu aprendi, afinal eu amadureci. Aprender não é mudar. Amadurecer não é fácil. Cresci com os meus demónios e enfrentei as minhas sombras.

Na verdade, a vida não vem com manual de instruções. Existem manuais para quase tudo, mas não existe manual para amadurecer. Aprendemos a caminhar pela vida no meio de muitas mensagens de como devemos ou não agir, de como devemos ser, ou daquilo que temos de alcançar.

A maturidade emocional não é como a maturidade física, ela não depende da idade cronológica, mas do caminho percorrido.

Infelizmente, apenas uma pequena parte de nós chega a um momento da vida em que pode dizer: “tenho sido um bom caminhante e fiz o meu caminho ao andar”.

Amadurecer significa entender que o amor mais poderoso é o amor próprio.

Por isso, é tão importante compreender que, só amadurecemos, quando aprendemos.

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Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia

 

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HOJE ACORDEI E DECIDI SER FELIZ

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Hoje acordei e disse: liberto-me de todos os sentimentos que me fazem mal. Podem ir-se embora. Agradeço e serei eternamente grata por tudo aquilo  que aprendi convosco, mas agora chega. Podem ir-se embora! Sejam livres, mas bem longe de mim.

 

Quem nunca disfarçou uma lágrima dizendo que tinha comichão no nariz, ou que lhe tinha caído um cisco no olho? E  que fazer quando as lágrimas correm pelo seu rosto sem controlo? Atrevia-me a dizer que chorar no transporte público é uma das situações mais ingratas da vida. E por que é que achamos que ao colocar os óculos escuros, estes vão activar a nossa capa de invisibilidade? Santo Deus, como eu queria uma. Parece que, exactamente neste momento, todos resolvem notar a nossa existência. Ou talvez não, talvez nem estivessem a olhar para nós, mas nós achamos que sim e, se isto não bastasse, a pensarem ainda, o que de errado teria acontecido a estes pobres coitados. E quando o mundo está de cabeça para baixo, não queremos ser notados. Na verdade, queremos, sim. Mas por pessoas específicas que nem sempre dão a devida importância à nossa tristeza.

 

Ficar a rever mentalmente os acontecimentos, os detalhes, os cheiros, as sensações. Fazer relações do possível e do impossível, seja com ou sem sentido. Aliás, a vida não tem o menor sentido. A vida é mesmo engraçada. Quando estamos no meio do olho do furacão ou dentro da tempestade do nosso copinho d’água, parece que aquela certeza nunca vai ser quebrada, que a dor não vai ter fim e aqueles milhões de dúvidas nunca serão resolvidos. Depois o tempo passa, o vento sopra, o mundo gira e tudo muda.

 

Quer a receita para voltar a ser feliz? Escolha ser feliz! Parece um cliché, parece um tanto banal, mas é a maior verdade do mundo. Puxar o travão de mão, respirar fundo e gritar para o seu Eu que a sua escolha é esta: ser feliz. A batalha contra os maus pensamentos é árdua e diária, porém o fortalecimento a cada instante, que  libertamos a negatividade, é fundamental.

 

As lembranças más estarão sempre a rondar, esperando a menor distracção. O segredo é aprender a doutrinar a mente. Aceite a existência desse pensamento, mas mande-o embora. Não aceite que ele permaneça. Dia após dia, quando menos der por isso, todo aquele sofrimento não terá mais explicação, propósito ou lógica.

 

Troque a lágrima por um sorriso. Porque a graça da vida é que ela segue um roteiro desconhecido. Só precisamos ter força de vontade para encarar essa viagem cheia de aventuras, percalços e descobertas.

 

 

Acorde e diga: hoje só quero amor e paz.

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia,

 

Texto adaptado do original de Mariana Staudt

 

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O que é a espiritualidade feminina?

Círculo de pedra de Stonehenge. Foto Andrew Testa -The New York

 Círculo de pedra de Stonehenge. Foto: Andrew Testa/The New York

 

Há uns 15 anos (provavelmente mais, o tempo da memória nem sempre acompanha os roteiros celestes), um amigo deu-me um livro: The Crone,  woman of age, wisdom and power (ou  A anciã, uma mulher de idade, sabedoria e poder), da escritora americana Bárbara Walker. Por coincidência ou por artes outras, este livro já chegou às minhas mãos velho, porque, na verdade, foi achado dentro de uma caixa, num desses dias em que resolvemos fazer uma limpeza de alto a baixo na casa, e arrumar as gavetas da alma.

 

E o meu amigo resolveu dar-me, nem eu nem ele sabemos bem a razão, mas talvez porque as mulheres da minha idade, ainda que nem sempre o queiram admitir, têm uma alminha feminista guardada nalguma gaveta... E estava na hora deste meu Alter ego, afinal, se revelar e... cair na vida.

 

Não era um livro feminista, pelo contrário. Naquela altura, para uma boa parte do mundo, os tempos do feminismo pareciam acabados e as próprias feministas estavam reduzidas a meras caricaturas de si mesmas. O que pode parecer uma tremenda injustiça histórica, considerando que ainda persistem em países da África, por exemplo, costumes hediondos como a extirpação do clitóris das mulheres. Mas, talvez, não tenha sido injustiça. Talvez, apenas, porque hoje ninguém precise mais de ser feminista para lutar contra a desigualdade, qualquer que seja a forma que ela tome.

 

Enfim, o livro de Bárbara Walker era sobre espiritualidade feminina e por aquela porta entraram velhas sábias e mães terríveis; passaram Ouroboros (*) engolindo a própria cauda e Grandes Deusas de onde tudo veio e para onde todos os seres do universo voltarão; desfilaram deusas terríveis e deusas deslumbrantes, Kali e Shakti, Inana e Íris.

 

E longe de serem representações frias, ressequidas habitantes das páginas dos livros, elas, inexplicavelmente, já viviam em mim, quentes e pulsantes, aspectos fascinantes e inexplorados da minha alma feminina…  Essas forças arquetípicas tinham o poder de transformar o mundo numa epifania feminina e fazer a própria Terra, virar a Grande Gaia, a brilhar, inchada de orgulho e eu era parte dela…

 

Cresci embalada por histórias da tradição judaico-cristã, onde as mulheres quase nunca ocupam os papéis principais. Mesmo quando esse papel era delas de direito, como é o caso, afinal, com licença, da Mãe de Deus, uma verdadeira Theotokos (**), os homens apareciam para roubar o protagonismo. (Até isso vem mudando aos poucos e teólogas como Adriana Valério e Elisabeth Fiorenza estão relendo a história sagrada, em busca dos rostos femininos que ficaram na sombra).

A anciã- uma mulher de idade- sabedoria e poder

 

Depois da Velha, vieram as Mulheres que Correm com Lobos. Então, de repente, esbarro com todas aquelas imagens femininas vindo, surgindo pelo caminho, iluminando de significados tantas zonas escuras do meu ser feminino…

 

Desde o meu primeiro encontro com a Velha e as suas irmãs, tenho lido muito, muito, sobre espiritualidade feminina. De certa forma, o livro amarelado ganhou contornos novos, mais amplos. Mas acho que a minha dívida com a Velha Sábia não vai ser paga nunca.

 

E embrulhada no círculo, veio a pergunta: Como a nossa vida de mulher teria sido diferente se “existisse um lugar para nós, um lugar de mulheres, um lugar onde outras mulheres, mais velhas, talvez, estivessem esperando para ajudar-nos a fixar raízes na terra sagrada do feminino. Um lugar onde houvesse um entendimento profundo próprio de nós,  mulheres, e onde pudéssemos encontrar alimento em todas as estações da vida. Um lugar de mulheres para nos ajudar a ver o nosso próprio rosto e a avaliar a nossa própria estatura. Para ajudar  a prepararmo-nos e para sabermos quando estivéssemos prontas …Como a nossa vida seria diferente?”

 

Então, a Velha Sábia tomou-me pela mão há muitos anos e conduziu-me por todas essas estradas vicinais… E, engraçado, de quando em vez,  quando estou devorada de perplexidade, penso nela. E marcamos um encontro à sombra de uma árvore. Ela está semprel lá, envolvida por um xaile, cabelos longos presos num coque folgado, sorriso de quem, embora já tenha visto tudo, ainda é capaz de maravilhar-se. É o melhor colo do mundo…

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Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia.

 

Imagem : Web

 

(*)Ouroboros é um conceito representado pelo símbolo de uma serpente, ou um dragão, que morde a própria cauda. A palavra, de origem grega, designa "aquele que devora a própria cauda". A sua representação simboliza a eternidade. Está relacionado com a alquimia, que é por vezes representado como dois animais míticos, mordendo o rabo um do outro.

(**)Theotokos é o título grego de Maria, usado especialmente na Igreja Ortodoxa e Igrejas Orientais Católicas. Sua tradução literal para o português inclui "portadora de Deus". Traduções menos literais incluem Mãe de Deus. Católicos, anglicanos, e algumas denominações protestantes usam com mais frequência o título de "Mãe de Deus" do que "Teótoco".

 

 

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