MULHERANDO – A amizade entre mulheres
Faz tempo, li um texto, muito interessante, sobre a amizade entre as mulheres e gostava de aprofundar mais este assunto.
Na realidade, a amizade entre mulheres tem um impacto muito mais intenso e positivo que entre os homens, tanto que a sensação de ligação e cumplicidade estabelecida é um fantástico mecanismo, que ajuda a reduzir o stresse e a ansiedade.
Por outro lado, convém deixar claro um aspecto essencial: não se trata de ter muitas “amigas”. Para a nossa saúde e o nosso bem-estar devemos contar só com amizades autênticas e significativas, aquelas que apenas se contam pelos dedos das mãos.
A amizade entre mulheres ajuda-nos a conseguir aquela almejada cumplicidade e a reduzir medos, assim como a relativizar os nossos problemas e esquecer as nossas angústias.
Poderia dar mil argumentos de por que é que a amizade é benéfica, saudável e necessária para o ser humano, e, ainda assim, ficaria sem espaço.
No entanto, são muitos os estudos e trabalhos realizados no campo da psicologia social e da saúde que nos demonstram algo muito mais particular e interessante.
Mas será que existe alguma coisa de diferente na amizade entre mulheres, que a torna tão especial?
As mulheres costumam fazer muitas coisas juntas. Não é raro vê-las aos pares ou em grupo no cinema, fazendo compras, viajando, vendo montras, fazendo jogging, passeando, assistindo a concertos, visitando exposições, almoçando, tomando chá, e tudo isto sem deixarem de conversar (nós, mulheres, falamos … !!!). Romances, relacionamentos, rompimentos, perdas, filhos, profissão, roupas, menstruação, TPM (Tensão Pré-Menstrual), menopausa, exercícios, sexo, etc., assuntos é o que não nos falta! Uma amiga minha diz, com muita graça, que: “sai para mulherar". E conseguimos juntas fazer todas estas actividades, enquanto que, ao mesmo tempo, vamos falando da vida. As mulheres trocam confidências, expõem aquilo que vivem, os seus conflitos, bordam e tricotam (literal e metaforicamente), brigam, acompanham e cuidam umas das outras, numa troca recíproca e colectiva.
Nas muitas actividades em companhia das amigas, aparentemente tão triviais, fios da subjectividade de cada uma de nós entretecem-se e ajudam-nos a ser mulher, a ser mãe, a ser amiga, a casar, a ter filhos, a descasar, a trabalhar, a enfrentar a saída dos filhos de casa, a voltar a namorar, a passar pela menopausa, a envelhecer, a fazer os lutos e tantas outras coisas.
A vida seria muito mais dura se não fossem as irmãs-amigas, amigas- irmãs, com as quais podemos falar e compartilhar tanto as dores como as delícias que vamos experimentando ao longo da estrada. “Mulherar” ajuda a fabricar tecido psíquico, um tecido que vai sendo bordado colectivamente, criando novos desenhos e novas formas de pensar e dar sentido às nossas vivências e à nossa história.
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortigrafia.
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