Aceitemos a idade que temos sorrindo
Se pudéssemos eternizar a juventude seriamos mais felizes ?
A obsessão pela eterna juventude torna-se muito dolorosa, sobretudo para nós, mulheres. Travamos uma luta insana contra a passagem do tempo refugiando-nos, muitas de nós, nas cirurgias plásticas, nas lipoaspirações, nos preenchimentos de botox e nas silicones. Mas será que pode haver beleza e tranquilidade no envelhecimento?
Claro que sim, aceitando a nossa idade e rindo muito.
A antropóloga pesquisadora e escritora Mirian Goldenberg escreveu uma obra deliciosa a que chamou “A Bela Velhice”, mostrando que, como o próprio título do livro sugere, pode haver beleza e tranquilidade no envelhecimento, dando mesmo dicas simples, de como aceitar a própria idade.
Apesar de não apresentar mapas, segredos, fórmulas ou receitas, com a ideia de “bela velhice”, Mirian procurou explorar os aspectos positivos do envelhecimento. Analisou o que é mais relevante nos discursos dos seus pesquisados para pensar a construção de uma “bela velhice”: encontrar o projecto de vida, procurar o significado da existência, conquistar a liberdade, almejar a felicidade, cultivar a amizade, viver intensamente o presente, aprender a dizer não, respeitar as vontades e paixões, vencer os medos, aceitar a própria idade e dar muita risada. A ideia de “A Bela Velhice” surge de um diálogo profundo com as ideias de Simone de Beauvoir. A partir das suas reflexões em "A velhice", somadas aos achados de pesquisas antropológicas com 1.700 homens e mulheres, a antropóloga Mirian Goldenberg procura a viabilidade de construir uma “bela velhice”.
A velhice está inscrita no ADN de cada um de nós. Só assumindo consciente e plenamente, em todas as fases da vida, que nós também somos ou seremos velhos, podemos ajudar a derrubar os medos, os estereótipos e os preconceitos existentes sobre a velhice. Somos nós os principais interessados numa transformação radical dessa realidade, seja qual for a nossa idade cronológica. Cada um de nós, mesmos os muito jovens, deveria reconhecer-se no velho que é hoje ou no velho que será amanhã: velho não é o outro, velho sou eu. Simone de Beauvoir tem como propósito fundamental denunciar a conspiração do silêncio e revelar como a sociedade trata os velhos: eles são ignorados, desprezados, estigmatizados, abandonados.
Falando sobre o livro, a autora explica: “Mergulhei profundamente na crise dos 40, saí dela após alguns meses de sofrimento e comecei a brincar com o facto de estar a envelhecer. Hoje, aos 57 anos, posso dizer que o meu processo de envelhecimento está sendo muito mais tranquilo do que eu imaginava. Não tive crise aos 50, aos 55 e espero não ter aos 60. Como as mulheres que pesquisei, sinto-me mais livre para colocar o foco nos meus próprios desejos, para não me preocupar tanto com a opinião dos outros ou com a auto imagem.”
Texto adaptado
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia.
Imagens : Web