A elegância do comportamento
Existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, seja cada vez mais rara: a elegância do comportamento. É um dom que vai muito além do uso correcto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza.
É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de dormir e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto.
É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam. Nas pessoas que escutam. E quando falam, passam longe dos mexericos, das pequenas maldades ampliadas no boca-a-boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao dirigir-se a pessoas de camadas sociais mais baixas.
Nas pessoas que evitam assuntos constrangedores, porque não sentem prazer em humilhar os outros.
É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem presenteia fora das datas festivas, é quem cumpre o que promete.
É elegante não ficar espaçoso demais.
É elegante fazer algo por alguém, e este alguém jamais saber o que se teve de lutar para conseguir fazê-lo...
É elegante não mudar o seu estilo apenas para se adaptar ao outro.
É elegante retribuir carinho e solidariedade.
É elegante o silêncio, diante de uma rejeição...
Sobrenome, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto.
Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante.
É elegante a gentileza; atitudes gentis falam mais que mil imagens...
Abrir a porta para alguém? É muito elegante.
Dar o lugar para alguém sentar? É muito elegante.
Sorrir, sempre, é muito elegante e faz um bem danado para a alma...
Oferecer ajuda? Muito elegante.
Olhar nos olhos ao conversar? Essencialmente elegante.
Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural pela observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que independe de status social: é só pedir licencinha para o nosso lado brucutu (*), que acha que "com amigo não tem que ter estas pieguices".
Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão desfrutá-la.
Educação enferruja por falta de uso.
E, detalhes não são pieguices.
Adaptação do texto de Martha Medeiros
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortigrafia
Imagem : Web
(*) - A palavra Brucutu teve origem no principal personagem da revista de história aos quadrinhos, do mesmo nome do personagem. A historia foi criada nos Estados Unidos, por Vincent T. Hamlin, no ano de 1930, em que o personagem se chamava Alley Oop.