Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” .
Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes
Hoje em dia a maioria das pessoas que têm acesso à informação sabe que é uma piroseira (peruíce) usar uma blusa de “paetês” (lantejoulas) às duas da tarde, e que é deselegante comparecer num casamento sem gravata. Os jornalistas especializados na "Arte de Saber Estar" sabem como ajudar os outros a não cometerem “gaffes” na hora de se vestir, de se comportar, ou de estar à mesa. Mas existe uma coisa difícil de ser ensinada e que, talvez por isso, seja cada vez mais rara: a elegância do comportamento.
É um dom que vai muito além do uso correcto dos talheres e que abrange bem mais do que dizer um simples obrigado diante de uma gentileza. É a elegância que nos acompanha da primeira hora da manhã até a hora de nos deitarmos e que se manifesta nas situações mais prosaicas, quando não há festa alguma nem fotógrafos por perto. É uma elegância desobrigada.
É possível detectá-la nas pessoas que elogiam mais do que criticam, nas pessoas que escutam mais do que falam, e, quando falam, passam longe dos mexericos, das pequenas maldades ampliadas no "diz-que-diz", no boca à boca.
É possível detectá-la nas pessoas que não usam um tom superior de voz ao dirigir-se às empregadas domésticas, aos empregados de mesa ou aos recepcionistas, nas pessoas que evitam assuntos constrangedores porque não sentem prazer em humilhar os outros. É possível detectá-la em pessoas pontuais.
Elegante é quem demonstra interesse por assuntos que desconhece, é quem dá um presente sem data de aniversário por perto, é quem cumpre o que promete e, ao receber uma telefonema, não recomenda à secretária que pergunte antes quem está a ligar e, só depois, manda dizer se está ou não está.
Oferecer flores é sempre elegante. É elegante não ficar espaçoso demais. É elegante não mudar o seu estilo apenas para se adaptar ao de outro. É muito elegante não falar de dinheiro em conversas informais. É elegante retribuir carinho e solidariedade.
Apelido, jóias e nariz empinado não substituem a elegância do gesto. Não há livro que ensine alguém a ter uma visão generosa do mundo, a estar nele de uma forma não arrogante. Pode-se tentar capturar esta delicadeza natural através da observação, mas tentar imitá-la é improdutivo.
A saída é desenvolver em si mesmo a arte de conviver, que não depende do “status” social: é só pedir licença para o nosso lado brucutu (*), que acha que “com os amigos não temos de ter estas "mariquices”. Se os amigos não merecem uma certa cordialidade, os inimigos é que não irão um dia desfrutá-la. A educação enferruja por falta de uso. E, detalhes não são “mariquices”.
(*) “Brucutu” é uma gíria que significa homem grosseiro, rude, bruto. A palavra Brucutu teve origem no principal personagem da revista de histórias aos quadrinhos, do mesmo nome do personagem. A historia foi criada nos Estados Unidos, pelo cartoonista Vincent T. Hamlin, no ano de 1930.
Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia
O abraço deviam ser receitados pelo médico. Há um poder de cura no abraço que ainda desconhecemos. Abraço cura o ódio. Abraço cura o ressentimento. Abraço cura o cansaço. Abraço cura a tristeza. Quando abraçamos soltamos amarras. Esquecemos por instantes as coisas que nos têm feito perder a calma, a paz, a alma... Quando abraçamos baixamos defesas e permitimos que o outro se aproxime do nosso coração. Os abraços abrem e aconchegam os corações de uma forma única… Abraço de “Eu Amo-te”. Abraço de “Que Bom Que Estejas Aqui”. Abraço de “Ajuda-me”. Abraço de “Urso”. Abraço de "Até Breve". Abraço de "Que Saudade!"
Quando abraçamos somos mais do que dois; somos família, somos planos, somos sonhos possíveis.
Então, e abraço de filho ?
Não há nada como o abraço de um filho... E abraços de filhos deveriam, sim, ser obrigatoriamente receitados pelo médico, porque rejuvenescem a alma e o corpo."
E não se esqueça de demonstrar todo o seu carinho dando um abraço, mesmo que virtual, para quem está longe.
Mandy MartinsPereira escreve de acordo com a antiga ortografia.
Não é apenas o avanço tecnológico que marcou o inicio deste milénio. As relações afectivas também passam por profundas transformações, revolucionando o conceito de amor.
O que se procura hoje é uma relação compatível com os tempos modernos, na qual exista individualidade, respeito, alegria e prazer em estar junto, e não uma relação de dependência, em que um responsabiliza o outro pelo seu bem-estar.
A ideia de uma pessoa ser o remédio para a nossa felicidade, que nasceu com o romantismo, está destinada a desaparecer neste início de século. O amor romântico parte da premissa de que somos uma fracção e precisamos encontrar a nossa outra metade para nos sentirmos completos. Muitas vezes ocorre até um processo de despersonalização que, historicamente, tem atingido mais a mulher. Ela abandona as suas características, para se amalgamar ao projecto masculino. A teoria da ligação entre opostos também vem dessa raiz: o outro tem de saber fazer o que eu não sei.
Se sou dócil, ele deve ser agressivo, e assim por diante., por sinal uma ideia prática de sobrevivência, e pouco romântica.
A palavra de ordem deste século é parceria. Estamos a trocar o amor de necessidade, pelo amor de desejo. Eu gosto e desejo a companhia, mas não preciso, o que é muito diferente.
Com o avanço tecnológico, que exige mais tempo individual, as pessoas estão a perder o pavor de ficar sozinhas, e estão a aprender a conviver melhor consigo mesmas. Estão começando a perceber que embora se sintam fracção, estão inteiras. O outro, com o qual se estabelece um elo, também se sente uma fracção. Não é príncipe ou salvador de coisa nenhuma. É apenas um companheiro de viagem.
O homem é um animal que vai mudando o mundo, e depois tem de se ir reciclando, para se adaptar ao mundo que fabricou. Estamos entrando na era da individualidade, o que não tem nada a ver com egoísmo. O egoísta não tem energia própria; alimenta-se da energia que vem do outro, seja ela financeira ou moral. A nova forma de amor, ou mais amor, tem nova feição e significado. Visa a aproximação de dois inteiros, e não a união de duas metades. E ela só é possível para aqueles que conseguirem trabalhar sua individualidade.
Quanto mais o indivíduo for competente para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afectiva. A solidão é boa, ficar sozinho não é vergonhoso. Ao contrário, dá dignidade à pessoa. As boas relações afectivas são óptimas, são muito parecidas com o ficar sozinho, ninguém exige nada de ninguém e ambos crescem. Relações de dominação e de concessões exageradas são coisas do século passado. Cada cérebro é único. Nosso modo de pensar e agir não serve de referência para avaliar ninguém.
Muitas vezes, pensamos que o outro é nossa alma gémea e, na verdade, o que fizemos foi inventá-lo ao nosso gosto. Todas as pessoas deveriam ficar sozinhas de vez em quando, para estabelecerem um diálogo interno e descobrir a sua força pessoal.
Na solidão, o indivíduo entende que a harmonia e a paz de espírito só podem ser encontradas dentro de si mesmo, e não à partir do outro. Ao perceber isso, ele torna-se menos crítico e mais compreensivo quanto às diferenças, respeitando a maneira de ser de cada um.
O amor de duas pessoas inteiras é bem mais saudável. Nesse tipo de ligação ,há o aconchego, o prazer da companhia e o respeito pelo ser amado. Nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, algumas vezes temos de aprender a perdoar –nos a nós próprios.
Mandy MartinsPereira escreve de acordo com a antiga ortografia.
Adaptação a partir do texto de Flávio Gikovate (médico-psiquiata, psicoterapeuta e escritor) falecido em Outubro de 2016