Cora Coralina – Assim Vejo a Vida
Cora Coralina – ou Ana Lins dos Guimarães Peixoto, de seu nome de baptismo – já tinha 90 anos (nasceu a 20 de agosto de 1889) e passou grande parte de sua vida como doceira. Desde muito jovem, ela escrevia poesia, mas o seu primeiro livro, “Poemas dos becos de Goiás e estórias”, só foi publicado em 1965, nas vésperas de completar 75 anos. Esta mulher, que partiu para sua derradeira viagem em Abril de 1985, é uma inspiração em todos os sentidos.
Carlos Drummond de Andrade escreveu o seguinte, numa carta que lhe endereçou: “Minha querida amiga Cora Coralina: Seu Vintém de Cobre (título de um livro dela) é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais directas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida!
Dois poemas de Cora Coralina para saudar e dar mais luz a este dia:
Não Sei
Não sei… se a vida é curta…
Não sei…
Não sei…
se a vida é curta
ou longa demais para nós.
Mas sei que nada do que vivemos
tem sentido,
se não tocarmos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
colo que acolhe,
braço que envolve,
palavra que conforta,
silêncio que respeita,
alegria que contagia,
lágrima que corre,
olhar que sacia,
amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo:
é o que dá sentido à vida.
É o que faz com que ela
não seja nem curta,
nem longa demais,
mas que seja intensa,
verdadeira e pura…
enquanto durar.
Assim eu vejo a vida…
A vida tem duas faces:
Positiva e negativa
O passado foi duro
mas deixou o seu legado
Saber viver é a grande sabedoria
Que eu possa dignificar
Minha condição de mulher,
Aceitar suas limitações
E me fazer pedra de segurança
dos valores que vão desmoronando.
Nasci em tempos rudes
Aceitei contradições
lutas e pedras
como lições de vida
e delas me sirvo
Aprendi a viver.
Fonte : Maya Santana - 50emais