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A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Um blog para todas as mulheres depois dos “entas” . Mulheres que, na plenitude das suas vidas, desejam celebrar a liberdade de assumirem a sua idade, as suas rugas, os seus cabelos brancos e que querem ser felizes

A Senhora Dança? A Mandy pelas danças da vida.

Meia idade: Anjo ou Demónio ?

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Entre a chegada da menopausa e o final da vida, as mulheres têm, actualmente, ainda muitos anos tempo pela frente.Com os avanços da medicina e o prolongamento do tempo da vida, após a menopausa há ainda muito futuro e vitalidade no horizonte. A menopausa e a velhice coincidiram durante muito tempo na História e entrar na menopausa significava estar bem próxima da morte. No entanto, embora o processo de envelhecimento se acentue a partir da menopausa, as duas coisas, nos dias de hoje, já  não se sobrepõem.

A actriz e escritora Fernanda Torres, ao escrever (Folha SP (25/9/15) sobre o seu aniversário de 50 anos, fala da apreensão pela proximidade do “papão” da menopausa. O artigo fez sucesso entre as mulheres, muitas comentaram e compartilharam nas redes sociais. A menopausa é, em geral, não é um assunto muito encontrado nos jornais e revistas, embora, hoje em dia, já se fale dele mais frequentemente. No seu artigo, Fernanda Torres, também, faz referência a  essa mudez, que é das mulheres, da imprensa falada e escrita, dos médicos e da sociedade em geral. É incrível o quão pouco se fala, conhece e publica sobre a menopausa numa época em que quase tudo o que diz respeito à saúde está diariamente em análise! Na  sua coluna na Folha ‘Calores femininos’ (26/2/15), Drauzio Varella fez a seguinte observação: “O desconhecimento enciclopédico desse aspecto da fisiologia humana só tem uma explicação: acontece com as mulheres.”

Pois é, cabe a nós mulheres, principalmente, quebrar esse silêncio e enfrentar esse tabu!

Será que podemos fazer esta passagem na nossa vida, difícil em muitos aspectos, sem interpretá-la somente com um sinal negativo, exclusivamente como um sinal de perdas e danos, sem que encarne o ‘papão’ ou o ‘demónio da meia idade’?

Numa época em que é cada vez mais comum mulheres e homens recomeçarem a busca por uma nova relação afectiva já na meia idade, é possível para as mulheres manterem a sensualidade, a vida amorosa e sexual e a feminilidade nas décadas entre o início da menopausa e o final da vida, ou atira-se a toalha?

Freud, o pai da psicanálise, afirmou que na menopausa há um aumento de libido. Como assim?! A libido não escorre pelo ralo na menopausa?! Pois é, contra tudo e contra todos, foi o que ele observou no seu trabalho clínico. Alguns estudos antropológicos intervêm em seu favor. Está comprovado que os sintomas da menopausa variam enormemente nas diferentes culturas. Em várias populações indígenas, por exemplo, é comum um aumento da vida sexual justamente com a chegada da menopausa. Entre as índias americanas Mohave, a vida sexual segue de vento em popa e as mulheres de meia idade encontram com facilidade maridos jovens. Nalgumas tribos brasileiras, a menopausa é desejada e esperada pelas mulheres, pois significa a libertação da responsabilidade com os filhos e de restrições sociais impostas às jovens que ainda menstruam.

Em França, uma pesquisa sobre os comportamentos sexuais depois dos 50 anos, revela que há um ganho de prazer sexual com o avanço da idade nas mulheres, como se o envelhecimento pudesse proporcionar um melhor conhecimento dos desejos e dos prazeres sexuais.

Como é possível relacionarmo-nos com o nosso corpo, com o tempo que temos pela frente, com os outros ao nosso redor e com o mundo, nesta nova fase da vida? Como podemos pensar a respeito de aberturas e possibilidades neste novo período da vida das mulheres?

Todas as mulheres têm um marcador universal que sinaliza o início de um novo ciclo na vida. Esse marcador é a menopausa. Uma vez feito o luto das perdas inevitáveis, como o do frescor da juventude e da possibilidade de engravidar e ter filhos, um novo usufruto da vida pode surgir e com uma qualidade surpreendente.

A menopausa é o início de uma segunda fase da vida adulta que pode durar mais 10, 20, 30 anos. E que, como todas as etapas da vida, merece ser aproveitada e bem vivida!

 

Mandy Martins-Pereira escreve de acordo com a antiga ortografia

 

Texto adapatdo do artigo de Helena Albuquerque (*)

 

Imagem : Correio Brasiliense

 

(*) Psicanalista do Departamento de Psicanálise do Instituto Sedes Sapientiae; Mestre em Psicologia pela USP.